Resenha: Os meios de comunicação como extensões do homem

Imagem disponível em: https://pixabay.com/pt/illustrations/fantasia-telefone-celular-v%C3%ADcio-4065943/ Acesso em: 01 set. 2019.

    Em “Os meios de comunicação como extensões do homem”, Marshall McLuhan apresenta uma nova perspectiva sobre como os meios de comunicação estão presentes em nosso cotidiano, podendo ser assimilados até mesmo como órgãos externos ou apêndices do corpo humano.
    A primeira parte, em especial, aborda a maneira como os meios de comunicação passam a influenciar a nossa maneira de pensar e de agir. No primeiro capítulo, “O meio é a mensagem”, o autor mostra que existe uma aceitação e incorporação subliminar do impacto causado pelos meios, isto é, ocorre uma naturalização dos aparatos tecnológicos e também da lógica consumista e das formas de sociabilidade que elas ajudam a produzir. A questão trazida por McLuhan mostra que, ao mesmo tempo em que as novas tecnologias de comunicação e informação revolucionaram os processos, também os transformaram em “prisões sem muros” para seus usuários. Fazendo um paralelo com os dias atuais, nota-se bem essa perspectiva: hoje, todas as informações imprescindíveis de uma pessoa estão em seu “órgão vital externo”, também conhecido como smartphone. Essa tecnologia foi assimilada de tal maneira que compromissos, dados pessoais, bancários, documentos diversos, a quantidade de passos diários, as conversas íntimas, fotos e vídeos ficam neste aparato. É muito fácil ver alguém desesperado quando perde ou esquece o celular em casa e isso nunca é questionado, simplesmente porque “é natural”.
    O segundo e o terceiro capítulos, “Meios quentes e frios” e “Reversão do meio superaquecido” são complementares uma vez que falam da interação do público para com os meios. Na visão do autor, um meio quente seria mais “fechado” e um meio frio, admitiria mais participação por tratar-se de uma obra inacabada. Tais conceitos, no entanto, são bastante frágeis na atualidade já que, com a internet, há cada vez mais conteúdos multimidiáticos e que só existem devido à participação do público, como por exemplo as redes sociais, que não produzem seu próprio conteúdo, mas fornecem um espaço conjunto que pode ser alimentado por diferentes pessoas num mesmo espaço de tempo.
    Embora os conceitos de meios quentes e frios estejam ultrapassados, o autor foi muito feliz em “O amante de Gadgets” quando diz que “os homens logo se tornam fascinados por qualquer extensão de si mesmos”. Tal afirmação vem ao encontro da lógica contemporânea dos wearables (tecnologia vestível): são relógios que podem ler mensagens, contar passos e fazer ligações, roupas inteligentes que monitoram movimentos, batimentos cardíacos, respiração e outros sinais vitais dos usuários e enviam essas informações em tempo real para computadores e smartphones. No mesmo capítulo, McLuhan também afirma que qualquer invenção ou tecnologia é uma extensão ou auto-amputação de nosso corpo e que, portanto, essa extensão exige novas relações com os demais órgãos. A partir disso, percebe-se a auto-amputação de sentidos; o mais comum deles é o da memória: tudo está nas nuvens, a um clique de distância, e, com isso, já não é tão importante lembrar de números de telefone e nem de datas comemorativas, afinal, as extensões já fazem isso por nós.
    No capítulo seguinte, “A energia híbrida”, discute-se a questão de que tais extensões são agentes produtores de acontecimentos, mas não de consciência. Ou seja, o meio em si proporciona novas oportunidades, mas a ressignificação delas é o ser humano quem faz. Dentro deste contexto, é comum que ocorra o encontro de dois meios, do qual nasce algo novo, híbrido, como por exemplo a internet, essa mistura multimidiática que proporciona conhecimento, informação e entretenimento ao mesmo tempo.
    Outro capítulo bastante interessante é o sexto, “Os meios como tradutores”, em que o autor vê os meios como “metáforas ativas no seu poder de traduzir a experiência em novas formas”. Trazendo tal frase para os dias atuais, nota-se que o ato de comer, assistir a um show, fazer uma viagem ou entrar em um relacionamento, tudo isso precisa ser levado para as redes sociais. É a ideia do “se não postei, não fui”; do “registrar para ser lembrado e não para lembrar”.
    O último capítulo da primeira parte, “Desafio e colapso”, por sua vez, complementa a ideia de tradução dos meios dizendo que essa mudança técnica não altera apenas os hábitos cotidianos, mas também as estruturas do pensamento e da valoração. O autor foi bastante assertivo quanto a isso. Ao longo dos anos, a tecnologia foi responsável pela mudança de costumes da sociedade: além das questões já citadas com os aparelhos celulares que nos acompanham durante o dia, em todas nossas ações, a educação foi bastante afetada também. O modo de ensinar conteúdos memorizáveis foi substituído por rápidas pesquisas no Google, assim como também é possível, pelo mesmo buscador, saber do que se trata o resultado de um exame ou qual é a previsão do tempo em outros países. Além disso, algumas lógicas de consumo foram alteradas com a possibilidade de compra via aplicativos que vão desde pedir um transporte, passam pelas compras de supermercado e refeições e vão até a escolha de um possível parceiro (a) para relacionamentos amorosos. Todas essas “facilidades” alteram lógicas de produção, serviços e até mesmo de como relacionar-se com os outros.
    O que McLuhan mostra, especialmente nesta primeira parte, é que os meios de comunicação e tecnologias não são de “outro mundo”, como costumamos separar (mundo real x virtual), mas sim extensões as quais permitem que pensamentos e inquietações possam ser explicitados por completo.
Aluna: Barbara Endo

Referências: MCLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 2008.

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