Resenha do livro: Os meios de comunicação como extensões do homem


Resenha do livro:
Os meios de comunicação como extensões do homem
Marshall Mcluhan
 Marshall Mcluhan. Fonte: Wikipedia

          No livro “Os meios de comunicação como extensões do homem” o autor Marshall Mcluhan realiza um relato histórico utilizando as tecnologias como parâmetro. Partindo das tecnologias do passado, faz uma comparação dos impactos que elas trouxeram a comunidade da época e relata como os meios de comunicação passaram a interferir nas relações sociais, afetivas, emocionais e psíquicas das pessoas.
Para o autor, todos os tipos de tecnologias construídas pelo homem são artefatos que aperfeiçoam seus sentidos, sejam elas roupas ou computadores, “é uma amplificação de um órgão, de um sentido ou de uma função que inspira ao sistema nervoso central um gesto autoprotetor de entorpecimento da área prolongada”(p. 197). Por exemplo, o telefone corresponde a extensão do ouvido e da voz, como uma “percepção extra-sensória”, enquanto que a televisão, traz a extensão do tato ou da inter-relação dos sentidos relacionados ao mundo sensorial. Dessa forma, considera as tecnologias como extensões do ser humano e diz que o fim das extensões do homem seria a simulação da consciência humana por meio de tecnologias.
No primeiro capítulo do livro “O meio é a mensagem”, esclarece que as consequências sociais e pessoais e de qualquer meio “constituem o resultado do novo estalão introduzido em nossas vidas por uma nova tecnologia ou extensão de nós mesmos”(p. 21).
Para exemplificar que o meio é  mensagem, ele cita como exemplo a fala do GE. David Sarnoff o qual pronunciou em um discurso: “Estamos sempre inclinados a transformar o instrumental técnico em bode expiatório dos pecados praticados por aqueles que os manejam. Os produtos da ciência moderna, em si mesmos, não são bons nem maus: é o modo como que são empregados que determina o seu valor” (p. 25).  Mcluhan contesta declarando que essa colocação é a “voz do sonambulismo em nossos dias”, exemplificando que, de acordo com essa colocação,  o vírus da varíola, ou as armas de fogo, não são bons, nem maus. Esse tipo de fala, para ele, ignora a natureza do meio.
Uma análise importante que Mcluhan faz está relacionada ao impacto que as tecnologias antigas trouxeram para as comunidades da época em que surgiram e, como as tecnologias atuais, em seu tempo, também causavam os mesmos estranhamentos. Fato que ainda se faz atual, haja vista as polêmicas que verificamos cotidianamente em torno do uso de novas tecnologias, ou ainda, as mudanças causadas no meio social em decorrência das mudanças tecnológicas.
Exemplos significativos que podem ser citados referem-se a criação da imprensa, a fotografia, o telefone, o cinema, o jogo, dentre outras tecnologias, as quais impactaram a educação, o mundo das artes, ou até mesmo, a sociedade vigente.
A impressão por meio dos tipos móveis, nos seus primeiros séculos de existência valorizava-se mais a divulgação dos livros antigos e medievais, havendo pouco interesse em produzir livros novos. Sem falar do saudosismo ao livro manuscrito, ocorrendo casos em que o comprador de livros impressos procurasse um copista para copiar e ilustrar os livros novamente, de forma artesanal.
O autor ainda afirma que “O livro foi a primeira máquina de ensinar e também a primeira utilidade produzida em massa” (p. 199), onde já podemos observar como foi a aceitação das tecnologias que chegavam às escolas e como ela foi determinante para modificar os processos de ensino e aprendizagem. Isso ocorre porque, anterior a imprensa, os processo orais, como o escolasticismo, eram dominantes na educação. No entanto, com o advento do livro impresso, o regime escolástico deixou de ter sua importância.
A fotografia, por sua vez, impactou o mundo das artes tradicionais. Não era mais possível ao artista pintar apenas o mundo que já era fotografado frequentemente. Surge então, a necessidade de investir em processos de criatividade, expressionismo e na arte abstrata.
O cinema é caracterizado por ele como uma forma de arte coletiva, a qual envolve diversos indivíduos para trabalhar com a cor, a iluminação,  som, interpretação e a fala. O mesmo ocorre  com outras mídias, como por exemplo, a imprensa, o rádio, a TV e as estórias em quadrinho.
Em relação ao jogo, Mcluhan compara-o ao meio de informação, no sentido de ambos se tratar de uma extensão do indivíduo ou grupo, no qual, o efeito destes sobre o grupo ou indivíduo “se traduz pela reconfiguração daquelas partes do grupo ou do indivíduo que não são prolongadas ou estendidas”(p. 272). Acrescenta ainda que “os jogos são extensões de nosso “eu” particular, e que eles se constituem em meios de comunicação”(p. 275).
O livro permite desenvolver uma importante reflexão acerca do impacto das tecnologias em diferentes momentos históricos e analisar como elas impactaram, e continuam impactando, a dinâmica social e as relações interpessoais.

Elaine Silva Rocha Sobreira

Comentários