Publicado em 2016, o artigo é introduzido traçando o cenário atual de atuação das tecnologias que modificam as relações sociais e comunicacionais entre homem/máquina a qual também favorece a emergência de habilidades e competências relacionadas às “literacias digitais”.
Esse cenário, é relacionado, pela autora, com as colocações do sociólogo Derrick de Kerkhove, o qual trata da centralidade da tecnologia na vida contemporânea, a qual passou a ocupar o lugar central antes reservado à natureza, criando novos parâmetros para definir o ser humano, teoria denominada de “tecnototemismo".
A autora divide em duas partes a introdução da internet no Brasil,
caracterizando como duas “ondas”. A primeira ocorreu a partir dos anos 2000,
com a oferta massiva da internet comercial, com suas políticas de acesso e
fornecimento de infraestrutura buscando alcançar a população de baixa renda. A
segunda a partir de 2006, preocupou-se com o uso que se fazia desse ambiente, a
qual é descrita pela autora como um momento de “apropriação cotidiana das novas
tecnologias e na construção de identidades e narrativas pelos atores em rede em
diferentes realidades sócio-históricas e culturais e que desembocam na adoção
do conceito de literacias digitais e/ou media literacy para qualificar as novas
competências de comunicação, busca de informações e produção de conhecimento
dos atores conectados.”
Para compreendermos a evolução da comunicação mediada pelas tecnologias
digitais, a autora Brasilina Passarelli descreve um breve estado da arte envolvendo
o “conceito de mediação na comunicação a partir dos anos 1970, e sua evolução
até o contemporâneo hiperconectado” por meio de pensadores e teóricos das
ciências da comunicação.
Inicia com a professora Leah A. Lievrouw, a qual apresenta em sua obra
aspectos histórico, econômico, social e comportamental relacionados ao
surgimento e desenvolvimento dos new media. Considera que o conceito de
mediação permite compreender que os conceituais trazidos pelas práticas
comunicativas, são inseparáveis e determinantes no processo comunicacional.
Para Leah, as mídias digitais não podem ser caracterizadas da mesma forma que
as mídias tradicionais, pois elas possuem um caráter participativo e interativo
que a diferencia das demais.
Na primeira década do século XXI surgem novos estudos abordando a
cultura comunicativa da rede, indo além da além da lógica de recepção e consumo
massivo dos anos 80 e 90. Para esse caso, a autora cita o professor Paristech
Christien Licoppe (2004), o qual apresenta o conceito de “presença conectada”
em um momento em que as tecnologias móveis marcam forte presença na vida da
sociedade atual. Outro exemplo que ilustra esse período é do professor Roger
Silverstone, com a “teoria da domesticação”, relacionado ao consumo e
apropriação dos conteúdos das mídias digitais que interferem até mesmo no
desenvolvimento de novas tecnologias digitais. Outro autor contemporâneo é
o Henry Jenkins, que analisa a evolução das mídias introduzindo o “conceito de narrativa
transmídia para os conteúdos que transitam em todas as mídias, em diferentes
segmentos e formatos. Em seu livro Cultura da Convergência, observa a
emergência de três vetores: convergência dos meios de comunicação; cultura
participativa e inteligência coletiva” (p. 234).
Cita ainda as contribuições de Sonia Livingstone com suas pesquisas
sobre crianças, segurança e Internet. e Nicky Couldry que analisa o poder
simbólico das instituições midiáticas, por meio dos conceitos de transmídia e
remidiatização, buscando compreender a influência da mídia na vida
contemporânea, com uma conectividade contínua proporcionada pelas tecnologias
móveis.
Com toda essa influência das tecnologias no meio social, deparamo-nos em
uma discussão que envolve a filosofia e a ética da informação, atrelada à
necessidade de reconfiguração das relações sociais numa sociedade
hiperconectada.
.Um importante autor que discute essa questão é o professor Luciano
Floridi, o qual considera a comunicação como uma interface, com um aspecto
interdisciplinar, sendo importante para todas as outras ciências. Para os meios
de comunicação, o desafio é identificar como podem ser relevantes em uma
“economia conectada em rede”, para isso precisa aprofundar o estudo da vida na
sociedade hiperconectada.
O autor cunha o conceito de “onlife”, por entender que as
tecnologias estão transformando as relações da vida humana em seus diversos
aspectos. Discute assim o papel do humano em uma sociedade hiperconectada, com
seus paradoxos entre o que é público e privado, respeito à liberdade e
pluralidade.
Neste contexto, nos deparamos com o papel da escola na formação das
crianças para um mundo hiperconectado. A autora cita no artigo cita a
iniciativa europeia com o 1st Forum on Media and Information Literacy, que
ocorreu em 2014, organizado pela Comissão Europeia e a Unesco, o qual
teve o intuito de elaborar políticas de inclusão da educação para a mídia no
currículo europeu da educação básica. buscando, inclusive, promover a expansão
da literacia midiática para a educação não-formal e educação informal. Verifica-se
a necessidade de educar as crianças para um uso ético e consciente das mídias.
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