Os meios de comunicação: como extensões do homem - Marshall Mcluhan




Os meios de comunicação: como extensões do homem

McLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação: como extensões do homem. Editora Cultrix, 1974.

Esta resenha foi escrita a partir da iniciação à leitura e compreensão da tradução do livro "Understanding Media: The Extensions of Man" escrito por Herbert Marshall McLuhan e publicado em 1964. Sua tradução para o português foi realizada pelo professor de Teoria da Informação Décio Pignatari e publicada em 1974 pela editora Cultrix.  
McLuhan foi professor de literatura inglesa no Canadá e EUA, reconhecido como autoridade mundial em comunicações em massa, cunhou a expressão “o meio é a mensagem” e o termo “aldeia globa” e previu a “World Wide Web” quase 30 anos antes de ser inventada. Neste livro, McLuhan descreve as tecnologias como uma extensão do corpo e da inteligência do Homem e mostra como elas nos movem de um mundo linear, aristotélico, mecânico, da Primeira Revolução Industrial, para o mundo audiotáctil, tribalizado, da Segunda Revolução Industrial, a Era Eletrônica, da cibernética, da automação, na qual o homem estar imerso e afeta profundamente sua visão e experiência de mundo de si e dos outros.
Como dito no primeiro parágrafo, esta resenha é baseada na iniciação à leitura do livro e, portanto, foi dado atenção aos dois primeiros capítulos do livro: “O meio é a mensagem” e “Meios quentes e meios frios”.
De início, McLuhan fala sobre a expressão “o meio é a mensagem” no capítulo 1. Para isso, ele começa explicando como o surgimento de uma nova tecnologia acarreta uma mudança de padrão nas vidas das pessoais e no comportamento social e cita a Automação como um exemplo. Ela sucedeu a tecnologia mecânica (técnica de fragmentação) e mudou os padrões do trabalho humano, modificando-o e reestruturando-o.
Na sequência, ele dá o exemplo da luz para esclarecer que o meio é a mensagem: "A luz elétrica é informação pura. É algo assim como um meio sem mensagem, a menos que seja usada para explicitar algum anúncio verbal ou algum nome." Nesse caso, a luz é o meio no qual nós podemos ter acesso ao anúncio ou algum nome que seriam o conteúdo da luz. Este conteúdo, por sua vez, é outro meio que contém outra mensagem e, assim, ele tenta esclarecer que, para todo meio, o "conteúdo" deste sempre será outro meio. Mais adiante ele explica que o “conteúdo” é determinado pelo seu meio, no qual pode configurá-lo e controlá-lo. Como a luz elétrica iluminando uma partida noturna de baisebol, por exemplo. A luz é o meio pela qual a partida de baisebol ("conteúdo") surge. Sem a luz não há partida de baisebol. Dessa forma, o meio é capaz de controlar a escala, cadência ou padrão das coisas humanas, podendo ampliar ou acelerar os processos já existentes. Como não entendemos a luz como um meio por ela não possuir um “conteúdo” por si só, a natureza do seu efeito acaba sendo escondida na presença de um "conteúdo". Dessa forma, McLuhan tenta explicar que os meios exercem efeitos sobre nós que não sabemos.
            Ao longo do capítulo McLuhan exibe alguns exemplos para comprovar como o meio é a mensagem, como citações de Shakespeare, teorias médicas (doença baseada no stress) e a chegada da eletricidade que causou uma transformação do mundo mecanizado, linear, sequencial e fragmentado para o mundo simultâneo. Para exemplificar o início dessa transformação, o autor dá o exemplo da chegada do cinema (enquanto meio) como a mensagem de transição da sucessão linear para a configuração. Outro exemplo de mensagem de transição é o surgimento do cubismo, em que este desfaz o trabalho de ilusão da perspectiva (compressão e interpretação) do cinema para a apreensão sensorial instantânea do todo. Essa visão simultânea do todo que o cubismo exerce nos faz emergir, mais ainda, para o mundo da estrutura e configuração. Dessa forma, os ramos especializados da atenção (Física, pintura, poesia, comunicação, etc) deslocaram-se para o campo total da atenção. Transmitem uma mensagem independente do “conteúdo”.
Posteriormente o autor cita os exemplos da cultura francesa, norte americana e inglesa, nas quais foram influenciadas pelo meio. A França e EUA tiveram sua nação homogeneizada com os princípios tipográficos da uniformidade, da continuidade e da linearidade. Na insciência da cultura tipográfica, hábitos uniformes e contínuos constituem índices de inteligência, dessa forma eliminando o homem-ouvido e o homem-tato. A Inglaterra, por sua vez, rejeitou o princípio da tipografia, permanecendo fiel à tradição oral e dinâmica do direito costumeiro. Daí a qualidade descontínua e imprevisível da cultura inglesa. Nesse contexto, o autor ressalta o poder de influência dos meios em nossas vidas e como estamos passivos e inscientes dessa influência ao dizer: “Os efeitos da tecnologia não ocorrem aos níveis das opiniões e dos conceitos: eles se manifestam nas relações entre os sentidos e nas estruturas da percepção, num passo firme e sem qualquer resistência. O artista sério é a única pessoa capaz de enfrentar, impune, a tecnologia, justamente porque ele é um perito nas mudanças da percepção.”.
No final do capítulo o autor fala que os nossos sentidos humanos, de que os meios são extensões, se constituem como "tributos fixos" que moldam os padrões sociais de organização, como os recursos naturais ou matérias-primas (carvão, algodão e petróleo) os fazem na economia. Ou seja, os meios também configuram a consciência e experiência de cada um de nós e cita uma situação mencionada pelo psicólogo C. G. Jung: ‘Todo Romano era cercado por escravos. O escravo e a sua psicologia inundaram a Itália antiga, e todo Romano se tornou interiormente — e, claro, inconscientemente — um escravo. Vivendo constantemente na atmosfera dos escravos, ele se contaminou de sua psicologia, através do inconsciente. Ninguém consegue evitar essa influência.'

Em seguida, dá-se início ao capítulo sobre “meios quentes e meios frios”. Segundo McLuhan um meio quente prolonga apenas um sentido em alta definição (alta saturação de dados) e não deixa muita coisa a ser preenchida ou completada pelo receptor (Ex.: rádio, cinema). Um meio frio tem baixa definição: fornece pouca quantidade de informação e muita coisa deve ser preenchida pelo receptor. (Ex.: telefone, TV). Vale salientar que o livro foi escrito em 1964 quando a tecnologia de cada dispositivo era bem diferente dos dias atuais.O meio quente permite menos participação do que um frio, ou seja, o primeiro tende a excluir e o segundo a incluir. Por exemplo: uma conferência envolve menos do que um seminário e um livro envolve menos do que um diálogo.
Uma tecnologia especializada de aceleração, intercâmbio e informação é encarada como um meio quente e causa a fragmentação da estrutura tribal, ou seja, acontece o efeito que o Mcluhan chama de destribalização. Em contrapartida, a tecnologia elétrica não especializada retribaliza.
Em termos de meios, as grandes cidades são quentes e o rústico do interior é frio. Mas em termos de reversão dos procedimentos e valores da era da eletricidade, os tempos mecânicos eram quentes enquanto a era da TV era fria. O autor cita a valsa como uma dança quente, rápida e repetitiva, adequada aos tempos industriais. O jazz era quente, porém, como tem pouco das formas mecânicas e repetitivas da valsa, ficou frio com a chegada do cinema e do rádio.
O autor ressalta a possibilidade de haver um desequilíbrio social quando a mudança deste não acompanha a aceleração desenfreada da tecnologia fria ou quente. Ele cita um texto de Margaret Mead que fala sobre uma elevação uniforme das temperaturas nas sociedades atrasadas, nas quais podem ser programas no sentido de que seu clima emocional se mantenha estável e faz uma comparação com o equilíbrio das economias comerciais no mundo. Nesse contexto, McLuhan também cita a preferência do historiador Lewis Mumford de cidades frias e informalmente estruturadas em relação às cidades quentes e densamente povoadas, pois, na sua visão, as cidades quentes possuem baixas oportunidades de participação e são mais rigorosas em suas exigências de fragmentação e exemplifica com o fenômeno de "aumento de empregos" que, para os negócios  e empresariado, consiste em permitir maior liberdade ao empregado na descoberta e definição de sua função.

Bruno Harllen Pontes da Silva é doutorando em tecnologias para educação na Escola Politécnica da USP

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