A dimensão estética de Marcuse na aprendizagem e valorização do indivíduo

Resenha aula 3 - 28/08/2018

Hebert Marcuse foi um sociólogo e filósofo alemão, da Escola de Frankfurt, que se dedicou a estudar, entre outras coisas, a dimensão estética, as maneiras como a arte e a produção de sensações através dela podem ser usadas como um caminho para a libertação.

Marcuse criticava os efeitos do capitalismo na produção das desigualdades e das mazelas dos homens, mas também criticava os governos comunistas, que não foram capazes de promover a libertação e também implementaram formas de dominação e exploração.

O sociólogo acreditava que a produção e disseminação da arte era o caminho para libertar as pessoas da opressão, revolucionar as ordens vigentes e promover mudanças significativas. No entanto, ao contrário das teorias marxistas que defendiam que a arte, para libertar, deveria ser de teor político e não meramente estético, Marcuse entendia que a arte da libertação não deveria ter regras e deveria expressar a subjetividade dos seus indivíduos, seja de teor explicitamente político ou não.

Cobrar que a produção artística seja feita em torno de um ideal político era, para Marcuse, mais uma forma de oprimir os indivíduos, negar suas subjetividades e reificá-los, oprimindo-os de outra maneira.

Ele também vai contra os conceitos preciosistas de estética da arte e volta a valorizar a arte presente no cotidiano e entrelaçada com as práticas. De certa maneira, ele traz de volta o conceito de arte ritual, aquela que marca os estudos antropológicos das sociedades ditas “primitivas” que tinham a produção artística como algo que não pertencia a um pedestal ou a um espaço de reverência, mas que era participante da vida cotidiana e coletiva.

Arte tem a capacidade de romper com o dominante, mas só o pode fazer se não tiver obrigação de corresponder a um domínio:seja o estético ou o político.

Marcuse não se opõe completamente às teorias marxistas, mas sugere que façamos um reexame crítico desse olhar: o material limita a produção artística, no entanto, se reduzirmos as consciências individuais a isso, estaríamos subestimando os sujeitos e sua capacidade de ação e reflexão.

Anular a subjetividade individual seria negligenciar o subversivo. Podemos entender que a racionalidade também se apresenta como uma instituição dominante, dominante, mas não extremamente objetiva, como esse conceito tende a ser colocado. Em Saberes Localizados (1995), de Donna Haraway, a objetividade da ciência e da produção de conhecimento é questionada diante das posições sociais, políticas e culturais que os indivíduos produtores ocupam.

Além da racionalidade ser um conceito questionável e que se afirma sob pilares políticos e enviesados, para Marcuse, seria na dimensão que vai além dela que se encontrariam novas chaves para a libertação. Seria na dimensão do imaginário, necessariamente subjetiva, que moraria o potencial emancipatório de suscitar uma nova realidade, realmente diferente e transgressora diante da atual.

Como exemplo das proposições de Marcuse, gostaria de citar o filme sobre a médica psiquiatra Nise da Silveira, que revolucionou o tratamento psiquiátrico através da arte não imposta. Ao disponibilizar um espaço e algumas condições materiais para que os pacientes pudessem pintar e interagir artisticamente como bem entendessem, Nise conseguiu promover não só uma melhora no quadro médico desses pacientes, como também conseguiu dar voz a eles, valorizar suas subjetividades, mostrar que eles podem se expressar, comunicar e agir para além dos moldes sociais que os classificam como indivíduos “inadequados”. Por meio dessa forma transgressora e não limitada de dar instrumentos, voz para esses sujeitos considerados“não adequados” (que são também oprimidos e excluídos), podemos enxergar uma movimentação de força política libertadora e que dignifica essas existências.

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