Latour - Sobre a modernidade, a Teoria Ator-rede e as Análises de Redes

"Si nunca fuimos modernos, que nos pasó?"

Uso do termo “modernizar-se” - O que é modernizar-se? O que se quer dizer quando se usa esse termo?

Se modernizar-se indica seguir uma direção, chegar a um estado de “modernidade”, qual seria esse estado? Nunca chegamos a ele? Afinal, ainda permanece a premissa de “modernizar-se”. Falta unidade no que conforma o termo “modernização”

Moderno é um termo esvaziado de significado que muda de acordo com a Mutação Ecológica.

Presume-se que a modernização pressupõe a secularização: o afastamento dos preceitos religiosos.

A medida que se afasta da secularização, se afasta também da capacidade religiosa de produzir unidade no modo de vida, mas não nos afastamos da tendência religiosa de produzir uma crença sobre um “lugar de chegada”

“Quando se fala de secularização, sempre encontramos uma teologia política. Quer dizer, o veneno da noção de secularização é que não faz falta falar de religião quando se fala de modernização, já que a modernização consiste em deixar a religião para trás. (...) Temos o poder do Estado, o monstro, mas deixamos de ter a política, ou seja, já não temos mais a capacidade de compor, a pequena, humilde e mundana capacidade do político, de político, de produzir um modus vivendi” (LATOUR, 18)

Latour entende a modernização como um fenômeno territorial colonizador.

Modernos X Contemporâneos
Ele defende que não temos que ser modernos e, sim, contemporâneos.
“Ser contemporâneo é ser de sua época, pertencer ao seu tempo. (...) É preciso se desprender do nó da modernização pois, mais uma vez, nunca se sabe exatamente o que significaria dar por acabada uma modernização”

Modernizar X Compor
“modernizar pressupõe propor uma série de elementos lineares, é dizer “se isso, então aquilo”, e tudo de maneira coerente para o progresso. Enquanto isso, compor supõe ter partes em relação ao espaço”



Ator rede X Análise de Rede X Redes Digitais

Quando falamos da Teoria Ator Rede (TAR) e de Análise de Rede (AR), estamos nos referindo às mesmas redes? Venturini, Munk e Jacomy organizam um artigo para debater os contrastes e semelhanças entre esses conceitos de rede.

A Teoria Ator Rede não entende a rede como um ambiente separado do ator, nem pressupõe que há, necessariamente, uma plataforma de conexão em ação. A Teoria de Callon, também defendida por Latour entende que a noção de ator e de rede são inseparáveis, considerando que o importante é entender o fluxo de ação, a dinâmica que se forma entre diversos actantes.

“descrever as dinâmicas e estruturas internas de atores- mundos (Callon, 1986a, p 28. Apud VENTURINI, MUNK, JACOMY, 2018, p. 7). O mundo de entidades geradas por uma rede ator rede. O termo enfatiza que, para um dado ator, não há nada além da rede que o criou, da rede que o constitui e da qual ele é uma parte.”

“É o trabalho e o movimento, o fluxo e as mudanças, que devem ser ressaltados. Mas agora estamos aprisionados com a palavra “Rede” (network) e todos pensam que queremos dizer Word Wide Web ou algo do gênero (VENTURINI, MUNK, JACOMY, 2018, p.7)”

Porque usar o mesmo termo?
O que essas diferentes nomenclaturas têm em comum quando usam a palavra rede?
1)Algo que não é substancial, mas que se constitui a partir de relações
2)Método que mede e representa conexões entre atores sociais
3)Utilização de sistemas que coordenam ações coletivas para a comprensão de fenômenos sociais.

O que os diferencia?
A análise de rede digital entende a rede com um ambiente de conexão humana e troca de conteúdo, mas a rede a qual a Teoria Ator-rede faz referência, não se limita a isso.

“Tendo passado meia década defendendo o papel de atores não humanos, os/as teóricos/as da teoria do Ator rede não poderiam se contentar com as redes restritas aos serem humanos”(VENTURINI, MUNK, JACOMY, 2018, p.8)

Não são exatamente as mesmas redes
As redes capturadas por dados digitais e analisadas por gráficos matemáticos não se assemelham à rede do tipo Ator-rede em pelo menos 4 aspectos:

1)Parcialidade e viés das inscrições digitais
2)Heterogeneidade de nós nas arestas
3)Reversibilidade da teoria ator rede
4) Dinâmica da troca relacional

A diferença e a utilidade
Apesar da diferença entre as proposições de redes e da compreensão de que elas não são representativas dos sistemas concretos do mundo real, é preciso compreender que todas as três teorias fornecem modelos e propostas que, mesmo em sua não semelhança com a realidade, são úteis na compreensão, desenho e comparação das interações.

No final, são as mesmas redes
“Então, sim, no final das contas, talvez estejamos falando das mesmas redes. Para fazermos isso, no entanto, precisamos reconhecer que não estamos falando sobre os nós ou as estruturas, os atores ou as redes, os grupos ou os clusters, as arestas ou as associaçõs. Estamos falando sobre a contínua, mas não homogênea, fabricação da existência social.” (VENTURINI, MUNK, JACOMY, 2018, p. 22)

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